quarta-feira, março 31, 2010

Fusível

Todos os dias vejo aquela Senhora.

Desde que entrei para a FE para trabalhar, já lá vão 3 anos e meio, que me lembro dela.
No início qualquer pessoa reparava nela pela exuberância da sua figura.
Cabelo ruivo sempre arranjado, saltos altos e modelitos clássicos sempre na moda. Uma figura activa que saía da Biblioteca para fumar os seus cigarros... E que, pelo menos aparentava, ser uma pessoa "normal".
Whatever that means.

De há, mais ou menos, um ano para cá algo aconteceu. Não sei o que foi e não "cusquei" para saber o que foi mas... O fusível rebentou.

O cabelo perdeu a cor, a roupa perdeu a classe, o olhar perde-se cada vez que o tento cruzar com o meu para um simples "bom dia". As suas saídas para cigarros continuam a acontecer. Mas nunca a ouço. Deambula pelos corredores com um sentido de que tem de ser mas... Perdeu-se.

A cabeça desligou, por algum motivo de certeza mais que válido, e a transformação deu-se.

Todos os dias vejo aquela Senhora.
E todos os dias sou confrontada com a realidade de que a sanidade mental é um bem essencial mas muito frágil.

1 comentário:

Joao Farinha disse...

Para quem conheça esta Senhora, eis um texto muito belo e simples a descrever uma realidade bem triste. É verdade, como se pode um olhar esvaziar tanto.